- It's the terror of knowing what this world is about:
Ele ficou temeroso que ela perguntasse mais. Não leve a mal, Lizzie era uma pessoa ótima e já a considerava uma grande amiga. Mas às vezes nem mesmo à própria mãe Vincent conseguia falar dos seus problemas, já que ele simplesmente travava e negava que tinha qualquer coisa acontecendo. Coisas da vida, mas agradecia que tivesse decidido desistir, pelo menos por agora. Voltou a sorrir, deixando até que um risinho anasalado e um tanto conformado saísse.
— Bom, eu sou parisien, acho que seja natural que eu fale francês. Mais de uma vez hoje eu esqueci que saí de lá, e quando falo sozinho fiquei do mesmo jeito. — E aí foi só observando a movimentação alheia, acompanhando seu passo com a mão livre colocada no bolso das calças, agora permitindo uma risada mais livre.
— Eu devo ser a pessoa mais impopular hoje, isso não é desculpa. — E não é que foi uma forma de falar parte do seu problema? Uma brincadeira? Nem mesmo ele percebeu, por isso não houve sequer uma troca de comportamento ou de reação cognitiva, até porque ficou bem implícito.
— Não, eu ia adorar que tivesse ido. Sério. Mas quem sou eu na fila do pão pra obrigar alguém? — Novamente se fez de ofendido, decepcionado, desolado. Mas a pose se desfez em poucos segundos. Foi direcionado até uma espécie de pavilhão, bastante extenso e com diversas camas distribuídas pelo cômodo. Estava prestes a perguntar o que era quando foi logo respondido. Não dá pra dizer que ele não ficou surpreso, sendo algo bastante instantâneo que erguesse as sobrancelhas e observasse o local outra vez, agora com um outro olhar. Além do choro que ouvia: se antes o deixava preocupado agora praticamente lhe partia o coração.
Ele sabia que não era sua intenção, mas Lizzie meio que acabou tocando no ponto que antes estava sensível. Ele também sabia que, além de haver os dois lados da moeda - afinal a própria irmã também perdeu os pais num ataque - sua família não era responsável por tudo, só que não podia negar que havia um peso especial em si. Mas tentou se focar na conversa que tinha.
— Isso porque você não conhece as minhas habilidades de me perder. Campeão olímpico desde 1960. — Estava sendo modesto, ele era bom. Observou o mural um tanto quanto admirado, também, voltando os olhos para a última frase.
— Uma namorada? Sabe, eu sou um cara difícil e bem exigente. Nervoso é a última coisa que eu ficaria. — Até conseguiu voltar com o bom humor, mas o choro ao fundo lhe atrapalhava. Não num sentido ruim, ele só tinha esse impulso de correr até lá e tentar ajudar a criança de alguma forma. Provavelmente se atrapalharia e pioraria as coisas, mas mesmo assim era um instinto mais forte que ele. Olhou na direção e até chegou a dar uns dois passos, impedindo-se no caminho, ficando meio de lado na perspectiva de Lizzie.
— Os primeiros dias, você disse? — Isso significava que era um novato, e que os acontecimentos então haviam sido recentes.